domingo, 25 de agosto de 2013

Se perder no tempo



Segundo o IBGE de 2010, a expectativa de vida dos gaúchos é de 75,9. Eu, gaúcha da cidade de Estrela, to beirando os meus 16,9 anos. Teoricamente, tenho 59 anos para viver todas as oportunidades e momentos que me for possível.
Mas... e se eu for buscar pão e for atropelada por um caminhão cheio de porquinhos indo pro abate dirigido por um motorista gordo e estressado porque recebe 678 reais e vive uma vida medíocre?
E se eu descobrir que dentro do meu útero existe um tumor irreversível?
E se eu estiver voltando da escola e um drogado, buscando dinheiro para acabar com sua fissura, me esfaquear e eu não resistir?
Críticos diriam que é meio mórbido uma garota perder seu tempo, num fim de manhã de uma quinta-feira pensando na morte. Mas como eu, indecisa e sempre sedenta de certezas, posso fugir dessa que é a única certeza definitiva da vida?
Sim, meu coração acelera e eu quase me cago de medo só de pensar em ir parar a palmos embaixo da terra. A morte assusta, assombra, machuca, e proporciona tantos outros sentimentos negativos. Mas nem o homem mais poderoso do mundo pode dar uma rasteira na tão falada e sombria morte.
A melhor forma de metaforicamente puxar a língua para a morte, é valorizar sua antecessora. Sim, fazer a vida valer à pena! Criar laços de amor, laços de amizade, laços de confiança. Testar todas as possibilidades, desde que essas sejam benéficas de alguma forma. Amar, odiar, errar, sorrir, gritar e aproveitar o silêncio.
Temos que brincar mais, independente de ter cinco, vinte ou setenta anos. Rir, pular, ver o pôr-do-sol de um lugar bem alto. Caminhar lentamente pela manhã na praia, sentindo o vento bagunçar os cabelos e os grãos de areia entrar no meio dos dedos dos pés. Amar, amar muito mais, e muito melhor. Se apaixonar por um sorriso. Por um gesto. Pelas atitudes. Pelas qualidades, mas também pelos defeitos, pelas marcas de nascença, por cada erro cometido, mas cheio de vontade de corrigir. Tomar um porre, ou beber até ficar feliz e perder a vergonha na cara.  Vestir aquele vestido que custou 180 reais só pra ir a esquina comprar o jornal, e ler sobre os problemas dos outros, e ver o quanto você é sortudo! Sim, você é sortudo! Você é premiado a cada amanhecer com vinte e quatro horas cheias de promessas.
Não deixe que pessoas más ou esse mundo poluído mude sua essência. Lave o rosto, coma sua comida predileta, dê bom dia para aquele homem carrancudo que passou por você, faça seu trabalho com amor, seja ele qual for. Viu, até rima estou criando, eu que tanto odeio poema. E sabe o nome disso? Felicidade. Boba, sem motivo. Genuína. Pura.

domingo, 11 de agosto de 2013

Excelentíssimo Cupido!



Caro cupido do Amor,

Venho por meio desta me declarar apaixonada. Sim, meu amigo, sei muito bem de todas as vezes que insultei-lhe sua imagem pelo fato de se mostrar sempre tão ausente na trajetória de minha adolescência. Mas então, em um dia insosso de outono, que até então eu julgara que era a época de ano em que os astros conspiravam a favor do meu mau humor diário e continuo, você se voltou a minha direção, fechou sua pálpebra esquerda sob seu olhinho azul, contou três vezes, e soltou sua flecha, que com maestria, acertou em cheio o lado esquerdo de meu peito.
E não é que tu, que eu julgava tão incompetente, fez seu trabalho direitinho? Cá me encontro hoje eu, completamente inebriada de um sentimento que me pegou de jeito e preencheu não só meu coração de sensações inéditas, como minha mente de pensamentos extremamente melosos, cativantes e fortes.
Meu caro cupido... Estou completamente entregue ao Amor. Sim, Amor, com A maiúsculo. Maiúsculo porque tem se revelado tão maravilhosamente bom, que devo lhe dar os devidos créditos.
E sabe o que mais? Amo. Amo não só as qualidades, a risada alegre e cativante, os olhos brilhando, a conversa fácil e altamente interessante. Amo a mania de coçar a sobrancelha direita; amo o péssimo hábito de me contrariar, só pra ter o direito de no meio da briga, me abraçar, me prender e me calar com um beijo que faz tudo dentro de mim pegar fogo; amo quando diz que posso comer trinta brigadeiros que vou ficar ainda mais deliciosa, e me faz comer realmente; amo quando diz que meu nariz é gordo e estranho; amo quando pega na minha mão e mesmo assim tem coragem de dar uma espiadela no bumbum avantajado e durinho da vizinha
do 402; amo quando diz que todos os dias de todas as vidas seriam pouco, para viver todo o nosso amor.
Porque cada milimetro do meu corpo o deseja. Cada pensamento bom o envolve.Cada melhor lembrança tem o seu nome. Cada fibra do meu corpo pede por ele, implora pelo seu toque.
Eu sou toda dele. Me encontro irrevogável, perdida, absoluta e eternamente apaixonada.